Guia de Leitura

   

A seguir, oferecemos um guia de leitura para aprender a soletrar correctamente em galego-português da Galiza. Mas é importante advertir que a leitura cómoda e fluída em qualquer idioma consegue-se unicamente lendo textos. Devemos praticar a leitura até conseguir acostumar a vista à nossa escrita. O processo consiste normalmente numha progressom bem breve (e deleitante, se o livro for bom...). Umha vez concluído, permitirá ao leitor nom só a leitura natural do galego-português da Galiza, mas também a das outras variedades da nossa língua comum.

Grafemas

Pronúncia

A

/a/, como em câmara.

B

/b/, como em bêbedo.

C+a,o,u

/k/, como em coxo.

Ç+a,o,u

/s/ ou /q/, como em caçar.

C + e,i

/s/ ou /q/, como em cego.

D

/d/, como em dedo.

E

/e/, como em ênfase  ou /ę/, como em café.

F

/f/, como em fácil.

G+a,o,u

/g/ ou /h/, como em gato.

G+e,i

/∫/ ou /ž/, como em gente.

H

Nom se pronuncia. Só pode ir a começo de palavra: homem, harmonia, proibir.

I

/i/, como em bicho.

J

/∫/ ou /ž/, como em jeito.

L

/l/, como em luz.

M

/m/, como em mamá ou /h/, como em ninguém.

N

/n/, como em nariz.

O

/o/, como em lôstrego ou /ò/, como em dócil.

P

/p/, como em porta.

R

/R/, como em rosa ou /r/, como em lura.

S

/s/, como em sapo.

T

/t/, como em tolo.

U

/u/, como em futebol.

V

/b/, como em vaca.

X

/∫/, como em caixa ou /s/, /ks/, como em exame.

Z

/s/ ou /q/, como em fazer.

 

A pronúncia dos dígrafos

 

A nossa escrita é rica em dígrafos. Vejamo-los:

Dígrafos

Pronúncia

CH

/t∫/, como em chamar.

GU+e,i

/g/ ou /h/, como em guerra.

LH

/l/, como em folha.

MH

/h/, como em umha.

NH

/μ/, como em aranha.

QU

/k/, como em quente, ou /kw/, como em frequente.

RR

/r/, como em carro.

SS

/s/, como em passar.

 

    Existe um dígrafo <GH> que é empregado unicamente em textos informais ou em diálogos em que se deseja reflectir a fala popular. Serve para indicar que a pronuncia é realizada obrigatoriamente com gheada. Por exemplo:

  

*          Pr' onde foi o Jam?

*          Foi prò horto reghar as patacas

 

       Note-se como a escrita galego-portuguesa proporciona a todas as consoantes palatais um mesmo modelo de representaçom: <CH>, <LH> e <NH>, a diferença da escrita do espanhol: <CH>, <LL>, <Ñ>. Isto logo tem também transcendência a nível morfológico, de modo que os pronomes átonos de objecto indirecto conservam na escrita a sua afinidade (che, lhe) frente ao que acontece se usamos a ortografia do espanhol (che, lle). Por isso podemos dizer que a ortografia galego-portuguesa é mais "profunda" que a do espanhol, quer dizer, mais dirigida aos morfemas, aos significados, e menos aos significantes de superfície (fonemas). Vejamos outros exemplos:

 

 

Ortografia galego-portuguesa

 

Ortografia castelhana

Geologia

Geólogo

Xeoloxía

Xeólogo

Vez

Vezes

Vez

Veces

Luz

Luzeiro

Luz

Luceiro

Começo

Comecei

Comezo

Comecei

 

 

 

Algumhas precisões sobre a leitura do galego-português da Galiza

 

 

*     O dígrafo <QU> em palavras como quando, quatro, quadro, quase, qualquer, qualidade, quarenta, quociente, quotidiano e algumhas outras pode ser pronunciado /k/ ou /ku/, dependendo da O professor Ricardo Carvalho Caleropronúncia de cada lugar.

 

*     O grafema <M> em posiçom final de palavra pronuncia-se /÷/, como indicamos acima. Nalguns contextos pode opcionalmente nom ser pronunciado na fala comum, como nas seguintes sentenças:

 

                                                      Assim que este bom peixe é o teu  homem.

                                                      Colherom-no roubando um carro na garagem.

                                                      Subiu com a sua amiga para umha nuvem.

 

*     O mesmo acontece com o <E> final das palavras vale, pele, fole com o pronome ele, o demonstrativo aquele e contracções derivadas destas formas: dele, nele, àquele, daquele e naquele. Note-se que no plural a sua pronúncia é obrigatória: vales, peles, foles, eles, aqueles...

 

*     Outras formas que podem sofrer alterações na pronúncia som as seguintes: também, para, ao, mas. Estas palavras na fala comum admitem também as pronúncias seguintes: [ta'męh], [pra], [ò], [mais], como também acontece em luso-brasileiro.

 

*     Devemos assim mesmo ter presente que na ortografia galego-portuguesa nom se representam por escrito (ainda que podem pronunciar-se) as alterações que sofrem nalguns contextos as consoantes finais <r> e <l> seguidas de artigo determinado: Vou arranjar o carro, Saíu partir a lenha, A ver quando recolhes o quarto... Emprega-se o traço <->, no entanto, para separar os pronomes átonos enclíticos: Vou arranjá-lo, Saíu parti-la, Deves recolhê-lo, Isto fai-se dessa maneira, Derom-nos toda a sua ajuda... Desta forma facilita-se também o rápido reconhecimento visual de cada um dos elementos destas palavras compostas no acto de leitura.

 

*     O galego-português emprega três tipos de acentos: o agudo <´>, o grave <`> e o circunflexo <^>:

 

*     O acento agudo indica que a vogal é tónica e, no caso de ir sobre <e> ou <o>, indica também que é aberta:  cálido, gélido, nítido, sóbrio, açúcar.

 

*     O acento grave é um diacrítico que se emprega para sinalar contracções sobre formas átonas. Somente existe na contracçom da preposiçom a com o artigo determinado feminino a: <à>  ou, opcionalmente, na contracçom da preposiçom a com o demonstrativo aquele e derivados: àquele(s), àquela(s)

 

Recomendei à rapariga que saísse dali.

Enviei umha carta àquela mulher. / Enviei umha carta a aquela mulher.

 

*     O acento circunflexo emprega-se só sobre <e> e <o> indicando que a vogal é tónica e fechada: brêtema, prudência, fêmea, côdea, côncavo... Emprega-se também sobre o <a> sempre que precede consoante nasal <m> ou  <n>: ânimo, câmara, cânhamo...

  

Sequências morfográficas

 

Existem, finalmente, umhas sequências grafemáticas que poderíamos denominar morfográficas e que podem ser lidas de várias maneiras, segundo a procedência do falante. Todas se caracterizam por fazer uso do til <~>, que se comporta assim como umha espécie de marcador que permite a fácil e cómoda identificaçom destas formas ao momento de ler:

 

 

Galego Ocidental

Galego Central

Galego Oriental

Galego Oriental Ancarês

Luso-brasileiro

Exemplos

ÃO

/aN/

/au/

/au/

/auN/

/auN/

irmão, mão,verão...

ÕE

/oN/

/o/

/oi/

/oiN/

/oiN/

soluções, camiões...

/ò/

/ò/

/òi/

/oiN/

/oiN/

pões

/òN/

/òN/

/òi/

/oiN/

/oiN/

põe

ÃE

/aN/

/a/

/ai/

/aiN/

/aiN/

capitães, cães...

/ai/

/ai/

/ai/

/ai/

/ai/

mãe, nãe

Ã

/aN/

/a/

/a/

/aN/

/aN/

manhã, irmã, rã, lã...

 

A terminaçom  -ÇOM

  É a forma correcta em galego-português da Galiza, pois a forma -CIÓN, actualmente maioritária, foi penetrando a través do castelhano desde finais da Idade Média. Ainda tinha certa vitalidade no século XIX a forma galega, tendo sido recolhida, entre muitos outros, por Pondal ("... a redenzón da boa / nazón de Breogán ...") e por Rosalia  ("...Era a gallega canzón / Era o alalá que fixo / bater o meu corazón..."). Actualmente ainda se conserva nalguns poucos lugares bastante isolados, sobretudo em zonas sesseantes, mas está já em fase de completa extinçom. Umha norma padrom que pretenda codificar um galego correcto e fiel às suas próprias raízes deve resgatar esta forma legítima para os usos formais da língua. O mesmo podemos dizer para outras terminações galegas como -VEL (possível), -VEIS (possíveis), -ARIA (perfumaria), -ZA (Galiza), -ÇA (presença), -IMENTO (conhecimento) e -AGEM (paisagem)..., etc.

 

 

 

 

Capa |Apresentaçom |Um sistema gráfico supralectal |Guia de Leitura | Por que algumhas pessoas dizem nom entender o luso-brasileiro? | Mais informaçom