O GALEGO NO MUNDO: APRESENTAÇOM

 

  

Língua polielaborada

 

De todos é conhecido que a língua galego-portuguesa conta na Galiza com duas propostas normativas. Isso quer dizer que é umha língua polielaborada, ou seja, umha língua que possui mais de um padrom normativo. Outras línguas que se encontram na mesma situaçom som o norueguês, o bretom ou o grego moderno.

 

No caso galego, a principal diferença entre as diversas propostas consiste no sistema gráfico utilizado, pois uns padrões normativos usam a ortografia do espanhol (adaptada inicialmente por alguns escritores galegos no séc. XIX) e outros, os reintegracionistas, a ortografia galego-portuguesa (usada já amplamente na Idade Média tanto na Galiza como em Portugal e com umha tradiçom recente na Galiza cujas origens se podem procurar também em escritores do séc. XIX). De facto, ainda que se virom obrigados polas circunstâncias a fazer uso da escrita do espanhol, todas as grandes personalidades da cultura galega optarom sempre pola manutençom da unidade linguística.

 

 

Diferenças entre os sistemas gráficos

 

         O sistema gráfico espanhol é de forte tendência fonologista, quer dizer, nele cada grafema tende a representar biunivocamente um único fonema e cada fonema tende a se ver representado por um único grafema. Em linhas gerais podemos afirmar que é um sistema óptimo para aprender a soletrar palavras numha nova língua ou para escrever sem vacilar palavras desconhecidas. De resto, as principais divergências do sistema gráfico espanhol a respeito dos princípios fonológicos devem-se a certas grafias de justificaçom etimológica (baseadas no latim): distribuiçom dos grafemas <b>/<v>, presença do <h>..., etc.

 

         O sistema gráfico galego-português é menos fonologista que o do espanhol e é fundamentalmente de tipo histórico. Isto significa que apresenta umha menor correspondência fonema-grafema e que as principais divergências a respeito dos princípios fonologistas som baseadas na própria história da língua. Por exemplo, as oposições <b>/<v>; <g>/<j>/<x>, <ch>/<x> e outras, baseiam-se em antigas diferenças de pronúncia. Algumhas, como a diferença /b/-/v/, ainda se conservam na fala oral noutros lugares (Centro e Sul de Portugal, Brasil e resto dos países lusófonos). Outras, como a diferença <ch>/<x>, conservam-se justamente na fala da Galiza (e nalgumhas zonas do Norte de Portugal).

 

         Vimos como a ortografia do espanhol tinha algumhas vantagens, mas a galego-portuguesa apresenta outras muito mais interessantes, pois a maior variedade de grafemas e combinações gráficas distintivas que utiliza favorecem a leitura fluída, ao tornar mais discretas e diferentes entre si as palavras. Convém lembrar neste ponto que o leitor que já conta com certa experiência e fluidez nom lê grafemas, lê palavras inteiras. Ler, pois, nom é o mesmo que soletrar. A grandes linhas, e sem que se poda defender que existam grandes diferenças entre ambas, podemos afirmar que a ortografia galego-portuguesa está mais focada para a leitura e a espanhola está mais focada para a soletraçom. A ortografia espanhola favorece os interesses dos aprendizes, a galego-portuguesa favorece os interesses dos leitores. Se temos em conta, ainda, que um único documento escrito por um indivíduo pode ser lido por milhões de pessoas, devemos aceitar que a nível estatístico a ortografia galego-portuguesa apresenta maiores vantagens, pois no mundo lê-se muito mais do que se escreve, especialmente na época actual.

 

         Dum ponto de vista histórico, a ortografia galego-portuguesa é a própria do galego, pois consolidou-se já na Idade Média na Galiza e em Portugal, tendo-se conservado e sistematizado neste país e tendo-se logo espargido polo mundo. A ortografia do espanhol foi usada para representar o galego polos primeiros escritores do séc. XIX porque nom conheciam a tradiçom medieval e porque escreviam para um público que somente conhecia o castelhano como língua escrita. Usarom a ortografia do espanhol do séc. XIX, aplicando mesmo antigas soluções desta língua quando precisavam representar sons inexistentes em castelhano. Por exemplo, o grafema <x> era antigamente usado polo espanhol onde hoje se emprega <g> ou <j>, conservando-se ainda em topónimos como Texas, México ...etc. O seu uso sistemático para o galego em palavras como xunta, xente, arranxar, Sanxenxo ..., etc. está, pois, derivado directamente de usos gráficos arcaicos do castelhano. Existindo formas galegas legítimas devemos preferir estas para representar o galego: junta, gente, arranjar, Sam Genjo... Alguns escritores, como Eduardo Pondal, já as empregavam sistematicamente no séc. XIX.

 

 

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